domingo, 21 de novembro de 2010

O desafio constante de tornar a minha prática educativa mais eficaz, me levou ao Curso de Pedagogia. Nessa caminhada, inúmeros aprendizados foram se incorporando ao meu fazer, me desafiando, me desacomodando, apontando novas possibilidades. Dessas, foram os projetos de aprendizagem, no entanto, que mais atiçaram minha curiosidade e inquietude. Ao desenvolvê-los com meus alunos pude observar o envolvimento e interação da turma, determinando as perguntas, conduzindo o trabalho e concretizando autoria. Este diferencial me desafiou a debruçar o olhar sobre os projetos de aprendizagem como objeto de estudo, tendo como questão central: Quais os limites e possibilidades dos Projetos de Aprendizagem em classes de alfabetização?

Retomar a leitura de pensadores como John Dewey, Kilpatrick, Célestian Freinet, Ovide Decroly, Maria Montessori, Anísio Teixeira, Paulo Freire foi fundamental, tendo em vista a ousadia dos mesmos, cada um em seu tempo, de trazer em seus estudos a aprendizagem a partir do interesse do aluno, princípio dos projetos.

Para refletir sobre os projetos de trabalho e a experiência vivida com meus alunos e alunas, escolhi os estudos do espanhol Fernando Hernández, pelo trabalho desenvolvido na escola Pompeu Fabra, Espanha, que possibilitou ao autor teorizar sobre Projetos, e das brasileiras Iris Elisabeth Tempel Costa e Beatriz Corso Magdalena, pela proposta metodológica para desenvolver projetos desde o início da escolarização.

Hernández aprofunda seus estudos na intenção de organizar os conhecimentos escolares, as atividades de ensino e aprendizagem a partir dos projetos de trabalho, uma relação mais pedagógica, enquanto Magdalena e Costa aprofundam o enfoque metodológico dos projetos, com a intenção de estimular a construção de conhecimentos científicos, uma relação mais didática.

Como metodologia, utilizo o estudo de caso, que tem como proposta investigar de maneira particular uma situação especial. O trabalho de campo foi partiu da experiência realizada no estágio curricular do curso de pedagogia no primeiro semestre de 2010, com alunos do 2º ano, classe de alfabetização. Apresento dados de análise do projeto “Insetos” desenvolvido no período de 17/05/2010 à 12/06/2010. Constitui parte dos dados as anotações no wiki de estágio, o relatório final do estágio e trabalho desenvolvido pelos alunos. A reflexão tem como foco a escolha do tema, a formulação das questões de investigação, a pesquisa e a sistematização: nossos relatórios.

Na busca de respostas observei, entre outras coisas, uma carência de estudos específicos para o trabalho com projetos nas classes de alfabetização. As crianças pequenas são bastante receptivas as propostas e ao envolvimento, percebo que é muito fácil levá-los a querer aprender o que o professor quer ensinar. Dependendo do tema é o professor que se torna consultor. E embora muitos pensadores, em diferentes tempos da história da educação, tenham defendido uma escola centrada no interesse dos alunos, percebi como limite maior o despreparo do professor para trabalhar com esta metodologia que coloca o aluno como centro do processo do ensino escolar. Ainda é muito forte o ato educativo centrado no professor, o professor ensina, o aluno aprende, o professor determina o aluno realiza.

Pelas particularidades que uma classe de alfabetização apresenta em relação a leitura e entendimento da linguagem das fontes de informação, etapa esta fundamental num projeto de aprendizagem, necessita de muita tutoria. Diante disto, apresentam-se questões: Como e até onde intervir sem comprometer a autonomia dos alunos e garantir a autoria na construção das aprendizagens, principal fundamento da proposta?

O processo de construção do TCC me levam a considerar que o trabalho com projetos representam uma possibilidade de aproximar o que a escola precisa ensinar daquilo que o aluno deseja aprender. Permite a participação ativa dos alunos em busca de novos saberes e coloca-os como autores de suas aprendizagens, pois são eles que escolhem o tema que querem explorar.

Além disso, abre espaço para o desejo de aprender dos estudantes, permitindo que estabeleçam relação com os conhecimentos previamente acumulados e com a realidade que os cerca. O processo estimula os alunos a buscar recursos, criar estratégias, desenvolver a criatividade e a independência na busca do conhecimento. Essa caminhada leva-me também a considerar que os limites encontrados precisam ser objeto de reflexão e prática, pois como nos diz Paulo Freire (2001, p. 55), “ensinar exige consciência do inacabamento.”

A atividade proposta pelo SI para visitar todos os eixos do curso, no primeiro momento, assustou. Destaco agora, embora exaustiva, necessária para a construção do meu TCC. Nesses quatro anos muitas leituras importantes estavam distantes, a visita acendeu a memória. Meu primeiro e importante encontro foi com os pensadores John Dewey, Kilpatrick, Célestian Freinet, Ovide Decroly, Maria Montessori, Anísio Teixeira, Paulo Freire que em diferentes tempos da história da educação se dedicaram a estudar a aprendizagem a partir do interesse dos alunos. Onde os educadores de hoje buscam fundamentação para o trabalho com projetos. Tema do meu TCC. Porem destaco o meu reencontro com os estudos sobre a construção do conhecimento, para reafirmar o que já havia elegido como aprendizagem mais importante neste curso: os estudos sobre os modelos pedagógicos e modelos epistemológicos na apresentação de Fernando Becker (2001). Entender a aprendizagem como construção, um processo individual e ao mesmo tempo coletivo, é fundamental para optar por uma metodologia de trabalho. Como também é importante saber como estes conceitos foram construídos ao longo da história da educação e a quem eles servem. Esse conhecimento permite fazer escolhas e ter autonomia da prática educativa.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O oitavo eixo do curso foi também o meu retorno para a sala de aula depois de seis anos de afastamento. Minhas expectativas eram muitas. Foram sete semestres de leituras e reflexões que possibilitaram inúmeros aprendizados. Era hora de colocá-los em prática, e os mais de 20 anos de experiência não me deram tranqüilidade. As aprendizagens construídas me pediam nova postura diante do processo de ensinar. Fazer deste ato, um ato reflexivo, descobrir como meu aluno aprende e transformar a sala de aula num espaço de aprendizagem. Nesses seis anos nossa escola foi informatizada, estava também, diante do desafio de trabalhar com as tecnologias no processo aprendizagem dos meus alunos. Com o conhecimento adquirido no curso e a motivação dos alunos, a experiência foi positiva, pois o uso das TICs representa, para nossos alunos de classes mais desfavorecidas, a única oportunidade de participar do mundo tecnologizado, e utilizá-lo como mais um recurso para aprender foi instigante. Outro desafio foi desenvolver um projeto de aprendizagem com meus alunos, com a proposta de colocá-los como protagonistas do processo de construção das próprias aprendizagens. A experiência atiçou minha curiosidade em relação ao trabalho com projetos e se tornou o tema de estudo do meu TCC.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Visitando o eixo VII, destaco a interdisciplina “Educação de Jovens e Adultos”, pelas aprendizagens que construí. Coisas novas e interessantes que só um espaço de formação me levou a descobrir. Embora trabalhando muitos anos em educação escolar, não tinha conhecimento do EJA. A interdisciplina além de nos oportunizar conhecer as políticas públicas e a história da EJA, ofereceu um material teórico muito rico e interessante sobre estes sujeitos que buscam a escola em outro momento de suas vidas. Foi a partir desses estudos que conheci o trabalho da EJA no meu município. Pude constatar uma grande demanda de jovens freqüentando essa modalidade de ensino. Jovens que por diferentes motivos foram excluídos da escola de tempo normal. Que me levou a refletir sobre as não aprendizagens, que fazem nossos alunos somar anos de reprovação e no processo a evasão escolar sem completar o ensino fundamental. Gostei muito de ampliar meus conhecimentos nessa área. A interdisciplina de “linguagem e educação” a partir das leituras proposta nos aponta como a escola, na maioria das vezes padroniza o uso da linguagem, oral e escrita colaborando para a exclusão dos grupos que não participam desse padrão. Excluídos muitas vezes recorrem a EJA. O estudo da didática, planejamento e avaliação apontam para práticas pedagógicas com metodologias que valorizam os conhecimentos previamente construído pelos sujeitos e partem desses para a construção de aprendizagens significativas. O aluno como sujeito ativo do seu processo de aprender.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Visitando o eixo VI encontrei o texto que já estou usando para construção do meu TCC, quando estudo sobre os Projetos de Aprendizagem, seus limites e possibilidades nas classes de alfabetização. O textoEpistemologia Genética e construção do conhecimento” da Tania Beatriz Iwaszko Marques, que apresenta os estudos de Piaget sobre a gênese das estruturas cognitivas, explicando-a pela construção, mediante a interação radical entre sujeito e objeto. Busquei este texto para conceituar aprendizagem na teoria piagetiana, que distingue a aprendizagem no sentido amplo (lato sensu) e a aprendizagem no sentido estrito (stricto sensu): “no sentido restrito, fala de aprendizagem na medida em que um resultado (conhecimento ou atuação) é adquirido em função da experiência”. Por outro lado, considera a aprendizagem no sentido amplo como a “união das aprendizagens s. str. e desses processos de equilibração” (PIAGET, 1974, p.54). Quando entramos em contato com um novo conhecimento, acontece um desequilíbrio, então é preciso assimilar essa novidade incorporando às estruturas já esquematizadas, que pela interação dá início ao processo de acomodação. Entender o processo que os sujeitos aprendem é fundamental para ensinar. E nesse sentido o professor passa a ser um aprendente, para perceber o que o seu aluno sabe, condição prévia para novas aprendizagens.

Assim vejo nos Projetos de Aprendizagem a possibilidade de desequilibrar os alunos, no sentido piagetiano, quando valoriza as concepções construídas a partir do senso comum colocando-os em xeque para aproximá-los do conhecimento científico.

domingo, 17 de outubro de 2010

A visita ao quinto eixo a partir da interdisciplina da Psicologia da Vida Adulta me levou a refletir sobre o adulto que me tornei. Destaco aqui o meu adulto profissional e a interdisciplina sobre as Políticas Públicas e Gestão da Educação me fizeram entender que ele foi construído a partir de um modelo de educação produzido num determinado momento da história da educação brasileira. Uma educação com métodos tradicionais onde o ato de aprender foi a memorização. A educação bancária de que Paulo Freire tantas vezes se referiu, onde o professor deposita o conhecimento que só ele possui e o aluno recebe de forma dócil sem questionar. Uma escola alienante que matou, por muito tempo, minha curiosidade investigativa e minha criatividade, mas especialmente minha autonomia quando não me oportunizou o direito de exercitar o pensamento reflexivo. Mas também é fruto de um momento histórico de lutas pela democracia onde os professores das grandes redes estaduais de ensino começam a lograr sua organização sindical e a conquistar planos de cargos e carreira, com valorização da formação e a gestão democrática da educação. Me fez entender que a gestão democrática da educação é um processo em construção que envolve toda a organização da educação brasileira. Que o campo da administração da educação ao longo do tempo vem cristalizando modelos que se cruzam e/ou se rompem a cada contexto histórico, político e social da sociedade brasileira, e que na realidade o que está em jogo é, principalmente, uma mudança na estrutura das relações de poder na organização dos sistemas de ensino e das unidades escolares. Assim não basta estatuir normas formais para democratizar a gestão da escola, é preciso democratizar as práticas de toda a comunidade escolar, e para tal, é preciso encarar a democracia como um princípio ético-político que necessita ser cultivado em todos os espaços de relações sociais.

Tudo isso tem relação com meu TCC, quando investigo a metodologia de projetos como proposta de aprendizagem que desenvolvam autonomia e autoria na produção do conhecimento.

domingo, 10 de outubro de 2010

O eixo IV foi fundamental para refletirmos nossa prática em relação a seleção dos conteúdos e metodologia no ensino de Ciências, Matemática, Estudos Sociais, disciplinas tradicionais do nosso currículo escolar.

Suas interdisciplinas, trouxeram em primeira mão a possibilidade de reflexão das minhas concepções, de como elas foram construídas ao longo da minha vida e que se tornaram base para minhas ações e compreensão do mundo. Essa identificação foi importante para poder refletir criticamente estes conceitos e tornar as ações mais conscientes e comprometidas.

Lembro da aula presencial da interdisciplina de Ciências, onde o professor questionava porque estudar Ciências. Instigando-nos a duvidar, a querer saber um pouco mais, para não ser enganado por coisas que nos são ditas, para ter um pouco mais de discernimento das coisas que ouvimos. Pareceu-me tão simples, mas de muita importância. Precisamos desenvolver uma consciência crítica para podermos intervir no espaço e no tempo em que vivemos, especialmente com nossa tarefa de formação de pessoas. O texto “Representando o ensino de Ciências a partir de novas histórias da ciência” de Teresinha Dutra da Rosa Russel, ajudou nesta reflexão quando diz: “A descrição do tempo, do espaço e das condições político-sociais, em que aparecem determinadas explicações científicas, nos permite não só entender com maior profundidade a lógica daquelas visões de mundo, mas também refletir sobre as condições sociais de produção das teorias contemporâneas.

Precisamos ser curiosos para dar espaço para a curiosidade em nossas salas de aula. Curiosos da nossa história de vida, curiosos das coisas que nos cercam. Abrir espaço para as perguntas, para a investigação.